segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Teatro: Miraflores

Miraflores, uma peça que traz sem receio de falar/mostrar a realidade. Trata de vários assuntos polêmicos, de forma criativa e engraçada, não sei se a graça vem só da atuação inteligente ou do incômodo que tudo aquilo traz (aquela velha história, melhor rir pra não chorar).

Os personagens são "ratos" que trabalham em uma fábrica onde, na teoria, o que se quer é a felicidade dos trabalhadores, mas a felicidade não é tratada como algo natural consequência de bem estar ou de nada, to feliz e pronto, a felicidade na fábrica é totalmente forçada, uma obrigação dos "ratinhos", tudo visando sempre o aumento da produtividade, ratos contentes produzem mais e melhor.

Do cenário da fábrica, a peça vai para um hospital público e o descaso do sistema com as classes menos favorecidas, a morte por erros, tratada com normalidade. Uma mãe morre, uma filha que dorme na escola, porque sua mãe não apareceu para buscá-la, além do fato não fazer diferença para os demais, todos ainda agem de forma preconceituosa e quem tenta ajudar, paga caro por isso.

Inteligentemente a peça mostra a ascensão sem esforço de alguns, o abuso de poder, a difícil situação da saúde pública, a indiferença que as pessoas são tratadas por ter ou não status, a marginalização, a fome, a ilusão, destruição de sonhos... como rir disso?

Uma peça que vale muito a pena, porque além de levar a um reflexão forte, e ainda (apesar do assunto sério) proporciona umas boas risadas.

Abraço.


imagens: divulgação - Karina Couto